Estamos passando por um momento interessante no país. A música sertaneja está cada vez mais comum no coração das pessoas. Novas duplas, trios, bandas espalhando a música caipira (na melhor atribuição à essa palavra) com uma nova cara.
Sertanejos têm novas roupas, novas letras, novas misturas. Sanfona mais guitarras pesadas, bateria em comunhão com a zabumba. E é esse o sucesso: A Novidade.
Antigamente ouvíamos canções belíssimas onde seus interpretes tão sofridamente pregavam: “Pense
Como vários outros, que penavam a amargura do amor. Posso relembrar, até que nostalgicamente, dos saudosos gritos de Zezé ao suplicar: “É o amooooooor! Que mexe com a minha cabeça e me deixa assim...”
Tão lindo. Um amor quente que clama pelo outro quase que humilhantemente. Mas tinha problema nisso? Não, problema algum! Era importante, demonstrava carinho de um modo crú e muito real, para aquela época.
E hoje, no Brasil do século vinte e um, qual é a missa sertaneja?
Guilherme e Santiago respondem: “E daí?! Se eu quiser farrear, tomar todas no bar, sair pra namorar? O que é que tem? Foi você quem falou que a paixão acabou. Que eu me lembre não sou de ninguém.”
Surge então um amor independente, que pertence à todos mas no fundo é tão sozinho como o mundo. Esse é a nova retórica sertaneja. Isso é ruim? De modo algum! É um reflexo do que nós somos, gostamos e comemos. Alimento suficiente para um momento, onde logo estaremos famintos por mais.
Um amor fast food. Confessamos com repugnância que nos lambuzamos nele e somos loucos para largar dessa facilidade e se alimentar mais saudavelmente.
Falamos até: Começo a dieta na segunda-feira. Basta de amor fast food!
Só que quando chega o final de semana, e o forró bate na porta, ficamos tão perdidos no buffet, nas possibilidades variadas do cardápio, que na segunda o que queremos realmente é espalhar o novo tipo de prato que comemos no sábado. E a dieta vai por água a baixo.
Quem um dia não queria receber um bilhete com o seguinte dizer: Ah! Eu adoro amar você! Como eu te quero, jamais quis. Você me faz sonhar, me faz realizar. Me faz crescer, me faz feliz!
É uma receita eficaz. Não provoca rugas, deixa o individuo mais feliz, de bom humor e de bem com a vida, que é o mais importante. Mas ficamos tão desesperados por matar nossa fome interior, esse vazio natural de toda natureza humana, que acabamos nos entregando as facilidades do momento, aos pratos rápidos.
Simples assim: Dois hambúrgueres, alface, queijo, molho especial, cebola, picles no pão com gergelim. É o Amor Big Mac. O que sobra é uma ressaca moral na manhã seguinte.
Por que eu não gastei um pouco mais de tempo, de cuidado, e esperei pela comida certa? Nossa... a fome (A Solidão) era tanta que eu comi a primeira coisa que vi pela frente.
Pois é, essa pressa que está fazendo com que, a cada dia que passe, novos egos obesos inflem ao nosso redor. Ar por dentro. Estamos completamente vazios. Sedentos por um amor de verdade.
Me assusta imaginar até onde iremos, até quando o amor vai suportar tamanhas transformações. As canções são apenas um reflexo da realidade atual, pós-moderna.
Claro, existem alguns artistas, algumas músicas, que salvam nossa geração, mas não é uma redenção suficiente e sabemos disso. É quase que um grito por resistência e temo imaginar que seja um socorro de uma minoria.
Quem será o próximo ídolo do Brasil? Como serão as novas canções? Como nos descreveram no futuro? Até onde mudaremos e como nos veremos nas músicas tocadas repetidas vezes nas rádios? Ainda não sei responder. Então, só nos resta esperar!
Do samba ao rock, estamos em constante transformação e construção da realidade, mas sempre com a mesma fome. E onde iremos comer? De qual fonte beber?
Novas lanchonetes estão por vir, acompanhando nossa pressa, nossos desejos. E nossos novos refrões e estribilhos também. Acompanhemos, então, quem será o novo sucesso e como estará a nossa cara nas paradas sertanejas.
CAL CRISPIM
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