A capoeira é citada por muitos autores como "brasileira e filha de pais africanos". Estes pais africanos sofreram uma desvalorização das suas singularidades culturais desde o momento em que se encontraram trancafiados juntos com povos de diversas culturas. Sendo assim, podemos dizer que a capoeira sofreu influências de todos os povos que participaram de alguma forma do regime de escravidão.
A partir daí, surge o questionamento de se a capoeira mantém a luta em busca "de sua liberdade, dignidade e respeito" que outrora lhe fez ser tão temida e cuidadosamente observada pela elite brasileira.
Podemos dizer que assim como o preconceito racial que hoje se faz de forma camuflada e subjetiva, sendo percebidos apenas pelos que sofrem, e mesmo estes muitas vezes não o percebem; a capoeira mantém a luta pela afirmação racial de um povo, mostrando-lhes que diferentemente do que muitos pregam, a sua cultura também tem muito o que lhes possa orgulhar. Dessa forma mostro-lhes, queridos leitores, um ponto no qual a capoeira permanece original.
"As vezes me chamam de negro, pensando que vão me humilhar,
mas o que eles não sabem, é que só me fazem lembrar
que eu venho de uma raça lutou pra se libertar.
Que criou o maculelê; que acredita no candomblé.
que traz o sorriso no rosto, a ginga no corpo e o samba no pé.
Que criou de uma 'dança' uma luta que pode matar,
capoeira poderosa arma de libertação, brancos e negros na roda
se abraçam como irmãos"
Esta é uma música na capoeira que se enquadra perfeitamente nesta discussão e exemplifica com exatidão o que eu estava a falar no terceiro parágrafo. Além disso, o final desta música traz uma prova de que a capoeira do passado nem sempre foi praticada apenas por negros, mas também por brancos pobres e de várias nações. Pois é comprovado hoje que no Rio de Janeiro, Salvador, Recife e em outras cidades portuárias brasileiras a capoeira era praticada (ilegalmente) por pessoas de diversas etnias. Portanto, a pluralidade de nações e etnias na prática da capoeira se mantém com originalidade.
Finalmente, se eu for pensar e enumerar aqui as características da capoeira como "um instrumento de resistência de um povo à procura de sua liberdade, dignidade e respeito", acabaria por formar um texto grande (e grande quer dizer muito maior que este), cujo enredo caberia perfeitamente num livro. É claro que poderíamos também discorrer sobre a falta de originalidade em pontos específicos da capoeira, mas, eu faria isto apenas se aqui estivéssemos discutindo soluções para tal falta. Assim sendo, atenho-me a falar sobre os pontos positivos da capoeira como um todo, respondendo ao questinamento do meu querido amigo Cleiton, que nos brinda com a sua ilustríssima presença nesta página, trazendo-nos um pouco de sua inteligência carioca.
Abraços a todos e até mais!
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